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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Recessão Global e a Grande Recessão...


Galera, o vestibular 2011 chegou... Confiram este artigo elucidativo de Wolf...

A recessão global de hoje e a Grande Recessão - Martin Wolf
17/06/2009 – Valor Econômico
 
‘A demanda do setor privado só voltará quando países com altas taxas de poupança consumirem ou investirem mais’...



Os brotos verdes estão irrompendo. Pelo menos é o que nos dizem. Mas antes de concluirmos que a recessão acabará logo, devemos perguntar o que nos diz a história. Ela está entre os guias de que dispomos para a nossa desagradável situação atual. Felizmente, e definitivamente, temos as informações.

Infelizmente, a história que elas contam é triste.

Dois professores de História da Economia, Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia em Berkeley, e Kevin O'Rourke, do Trinity College, em Dublin, ofereceram quadros que valem mais do que mil palavras ("A Tale of Two Depressions" [Conto de duas depressões], junho de 2009, www.voxeu.org). No artigo, Eichengreen e O'Rourke situam a data do começo da recessão global atual, em abril de 2008, e da Grande Recessão, em junho de 1929. Quais são, pois, as suas conclusões a respeito do ponto em que estamos, com pouco mais de um ano já em recessão? A má notícia é que essa recessão se equipara plenamente à parte inicial da Grande Depressão. A boa notícia é que o pior ainda pode ser evitado.

Primeiramente, a produção industrial global segue a trilha do declínio na produção industrial durante a Grande Depressão de forma medonhamente semelhante. Dentro da Europa, o declínio na produção industrial da França e Itália tem sido pior do que aconteceu na década de 1930, ao passo que o do Reino Unido e da Alemanha é praticamente a mesma coisa. Os declínios nos EUA e Canadá também estão próximos dos ocorridos nos anos de 1930. Mas o colapso industrial do Japão tem sido muito pior do que na década de 1930, apesar de uma recuperação muito recente.

Segundo, o colapso no volume do comércio mundial tem sido muito pior do que durante o primeiro ano da Grande Depressão.

De fato, o declínio no comércio mundial no primeiro ano é igual ao declínio nos dois primeiros anos da Grande Depressão. Isso não se deve à proteção, mas ao colapso da demanda por bens manufaturados.

Terceiro, apesar da recuperação recente, a queda nos mercados acionários mundiais é muito maior do que no período correspondente da Grande Depressão.

Os dois autores resumem de forma incisiva: "Globalmente, estamos na esteira ou nos saindo ainda pior do que na Grande Depressão... Este é um evento do porte de uma Depressão".

O que conferiu o nome à Grande Depressão, porém, foi um declínio brutal ao longo de três anos. Desta vez, o mundo está aplicando as lições aprendidas com aquele evento por John Maynard Keynes e Milton Friedman, os dois mais influentes economistas do Século XX. A resposta das políticas públicas sugere que o desastre não será repetido.

Os professores Eichengreen e O'Rourke descrevem este contraste. Durante a Grande Depressão, a média ponderada da taxa de desconto das sete economias mais avançadas jamais caiu abaixo de 3%. Hoje ela está próxima de zero. Mesmo o Banco Central Europeu, o mais linha-dura dos grandes bancos centrais, reduziu a sua taxa para 1%. Durante a Grande Depressão a base monetária desmoronou. Desta vez, porém, ela continuou se expandindo. Realmente, a combinação de forte expansão monetária com recessão profunda suscita dúvidas sobre a explicação monetarista dada à Grande Depressão.

Por fim, a política fiscal tem sido muito mais agressiva desta vez. No começo da década de 1930, a média ponderada do déficit dos 24 países mais desenvolvidos continuava abaixo de 4% do PIB. Hoje, os déficits fiscais serão muito mais elevados. Nos EUA, o déficit geral do governo deverá ser de aproximadamente 14% do PIB.

Tudo isso está de acordo com as conclusões de um já clássico artigo de Carmen Reinhart, da Universidade de Maryland e Kenneth Rogoff, de Harvard ("The Aftermath of Financial Crises" [As sequelas das crises financeiras], Documento de Trabalho 14656, www.nber.org). Crises financeiras causam profundas crises econômicas. O impacto de uma crise financeira global deve ser particularmente grave. Além disso, "o valor real da dívida do governo tende a explodir, aumentando 86%, em média, nos episódios de vulto pós-Segunda Guerra Mundial". O motivo principal não são os "resgates" de bancos, mas as recessões. Após o fato, a concessão desenfreada de crédito privado se transforma em gasto público e em montanhas de dívidas. Governos solventes não aceitarão a alternativa de uma grande recessão.

A questão é saber se os incentivos sem precedentes atuais compensarão o efeito do colapso financeiro e dos acúmulos sem precedentes de dívida do setor privado nos EUA e demais lugares. Se o primeiro vencer, logo veremos um desvio positivo da trilha da Grande Depressão. Se o último vencer, isto não acontecerá. Está claro o que todos esperam. Mas o que nós devemos esperar?

Estamos testemunhando uma corrida entre a reforma dos balanços patrimoniais privados e o reequilíbrio global da demanda, por um lado, e a sustentabilidade do incentivo, do outro.

A demanda robusta do setor privado só voltará quando os balanços patrimoniais dos domicílios superendividados, das empresas com excesso de empréstimos e dos setores financeiros subcapitalizados forem reformados, ou quando países com altas taxas de poupança consumirem ou investirem mais. Nada disso acontecerá depressa. Na verdade, é bem mais provável que sejam necessários anos, considerando-se os extraordinários acúmulos de dívida da década passada. Durante os dois trimestres passados, por exemplo, os domicílios dos EUA quitaram apenas 3,1% da sua dívida. A desalavancagem é um processo demorado. Enquanto isso, o governo federal tornou-se o único tomador de empréstimo importante. Igualmente, o governo chinês pode expandir o investimento rapidamente. Mas é mais difícil que políticas públicas elevem os níveis de consumo.

É muito provável que a economia mundial necessite de políticas fiscais e monetárias agressivas por muito mais tempo do que se imagina. Isso deverá deixar políticos - e investidores - nervosos.

Contrapõem-se dois perigos. Um deles é que o incentivo seja retirado cedo demais, como aconteceu nos anos de 1930 e no Japão no fim da década de 1990. Em seguida, haverá uma recaída para a recessão, pois o setor privado ainda é incapaz ou avesso a gastar. O outro perigo é que o incentivo seja retirado tarde demais. Isso levaria a uma perda de confiança na estabilidade monetária, agravada por temores sobre a sustentabilidade da dívida pública, particularmente nos EUA, país provedor da principal moeda do mundo. No limite, os ascendentes preços em dólares das commodities e as crescentes taxas de juros de longo prazo dos títulos do governo poderão colocar os EUA - e as economias do mundo - numa estagflação nociva. Ao contrário de alguns alarmistas, não vejo nenhum indício deste tipo de pânico atualmente. Mas ele poderá acontecer.

No ano passado, a economia mundial caiu numa recessão. A resposta política foi maciça. Mas as pessoas que estão convencidas de que estamos no começo de uma recuperação robusta liderada pelo setor privado estão quase certamente enganados. Provavelmente a corrida rumo à recuperação plena será longa, árdua e incerta.

Martin Wolf é colunista do "Financial Times".

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