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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Quintana...




‘Os anos são apenas linhas imaginárias. E as pessoas é que devem decretar quando estão na flor da idade’, disse o poeta Mário Quintana, ao completar 82 anos, em 30 de julho de 88. Nesta entrevista, feita na épca, ele não comemora a idade - fala de política, religião, literatura, esperança. E, sem medo da morte, comemora o próprio vigor, anunciando novas obras, entre elas quatro livros infantis.

Por HERMES RODRIGUES NERY
O senhor crê na reencarnação? — Pois eu não sei, sabe? Eu acho felizes os que têm crenças religiosas. Acontece que eu só tenho dúvidas religiosas. O que vai se fazer, né?

O que o sr. acha do fanatismo? — O fanatismo é incompatível com a inteligência.

Como o sr. vê São Francisco de Assis? — São Francisco de Assis? Irmão isso... irmão aquilo? Ah... mas ele só gostava dos bichinhos bonitinhos. Porque ele não falou dos irmãos vermes que pululam às cargas, em outras coisas horrorosas? Na irmãzinha aranha... na irmãzinha jararaca... Só falou nas coisas bonitinhas. Ah, não...

Eu queria fazer uma última pergunta. Como o senhor vê essa ausência de ideais que tanto caracteriza a atual geração? — Mas eu acho que notar a ausência de ideais — é um sinal de que não está tudo morto, não é? Se não, não se notaria nada...

E o que me diz da esperança? — A esperança? Olha...eu sempre digo uma coisa, que o primeiro ditado está errado. O ditado diz que, enquanto há vida, há esperança. Eu digo que enquanto há esperança há vida. Porque nunca foi encontrada em nenhuma parte do mundo, num bolso de um suicida, um bilhete de loteria que fosse correr no dia seguinte. Ele esperaria, ao menos, para comprar o revólver de ouro.

Este é o ideal? — É. A gente deve sempre conservar aquela disponibilidade, aquela curiosidade pela vida que as crianças têm. Um adulto que se 'adultiza' demais... bah! Não tem curiosidade, não tem aceitação para tudo que as crianças têm. E, antes de tudo, a curiosidade: o mais triste da vida é alguém perder a curiosidade pela própria vida.

‘O milagre não é dar vida ao corpo extinto, ou luz ao cego, ou eloquência ao mudo... Nem mudar água pura em vinho tinto... Milagre é acreditarem nisso tudo.’

Mário Quintana

2 comentários:

  1. Gosto do Quintana... foi o poeta mais objetivo que conheci... Ele sabe falar da vida de maneira direta, mas sem abrir mão do encanto, da beleza.
    Parabéns pelo post!

    Um abraço

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  2. Querida, adoro Quintana, e foi bom que comente sobre 'o poeta mais objetivo que conheci'... Existe um conceito equivocado de que arte, poesia, música, é uma arranjo de palavras que funcionam... Isso é verborragia... Para falar, escrever, poetar, letrar, compor, precisamos ter o que dizer... Quintana tinha o que dizer... Assim como Drummond, Neruda, Pessoa, Borges, etc... Assim como Darwin, Einstein... As obras primas destes 'autores', são obras de arte do pensamento humano, e da linguística... Finalmente, sensibilidade não anda separada do pensamento... Pensar e sentir estão interligados, e não podem sob nenhum pretexto serem tratadas como condições mutuamente exclusivas... Não precismos abrir mão do encanto e da beleza para nada, e muito menos para expressar idéias e ideais... Se não temos nada a expressar, então nos calemos... Escutemos... Pensar e sentir, estão intimamente relacionados, e na verdade são a mesma coisa... A grande confusão parte do 'calculismo, da frieza calculista, do oportunismo'... Mas isso não é pensar... É antes, mais parecido com ruminar... Ruminar sobre um pasto de dinheiro e poder... Para finalmente cagar um vida... Serão os mais ricos do cemitério... E não terão sentido nem pensado nada... Não terão nem existido...

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