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sábado, 7 de abril de 2012

Fruuuuuummmm...


Dança para John Frum


Os hindus divergem sobre quem é o Senhor Maior, Vishnu ou Shiva, e muita gente foi e tem sido morta por esta pendenga...  Segundo Klaus Klostermaier (1994), um dos maiors estudiosos em tradições culturais indianas: “Os Lingapurãna prometem o céu de Shiva a quem mate ou arranque a língua de quem insulte Shiva”...

Existe uma Ciência Cognitiva para a Religião... Um clássico nesta área é ‘Repensando a Religião: Conectando Cognição e Cultura e Analisando os Rituais: Fundamentos Psicológicos da Cultura’ – ‘Rethinking Religion: Connecting Cognition and Culture and Bringing Ritual to Mind: Psychological Foundations of Cultural Forms’ - de Thomas Lawson e Robert McCauley... Eles investigam uma enormidade de fenômenos culturais, ritualísticos e religiosos, à luz da Neurociência Cognitiva... Segundo este estudo, por exemplo, os Zulus acreditam que quando uma mulher está grávida e a ponto de dar a luz, uma “serpente-espírito de uma mulher velha” faz aparições, e sempre está muito zangada... São os Xamãs que interpretam estas questões, que normalmente redundam em sacrifícios animais, para que a criança nasça com saúde...

Sam Harris lembra que os Jivaro do Equador acreditam que você tem três almas... A alma verdadeira, que você tem desde o nascimento, regressa ao seu lugar de nascimento depois de sua morte, e se transforma em um demônio que também irá morre e se transformará em uma mariposa gigante, que por sua vez também morrerá transmutando-se em um nevoeiro... A segunda alma é chamada de Arutam, que você obtém através de praticas rituais, jejuando, tomando banho em uma cacheira sagrada ou através de da ingestão de um sumo alucinógeno – que o torna invencível... O engraçado é que esta alma, segundo os Jivaro, tem o curioso costume sair de cena quando você está em dificuldades... E finalmente temos a alma vingadora, ou Musiak, que foge da cabeça das vítimas para matar os seus respectivos assassinos... E é por isso que recomendam, para o caso de você decidir assassinar alguém, que fique fora do alcance da cabeça de sua vítima...

Apesar de espalhadas pelo planeta, e integrando boa parte da cultura de nossos povos, estas crenças bizarras não existem desde de sempre, como bem observa Dennett... Segundo Dennett “Houve uma época ante das crenças e praticas religiosas terem ocorrido a qualquer pessoa”... Examine o curioso caso do Culto à Carga...

Quando as grandes navegações europeias alcançaram as isoladas ilhas do Pacífico Sul, no século XVIII, os nativos – melanésios – que habitavam estas remotas paragens ficaram abismados com a nossa tecnologia... Navios a vela majestosos – ou nem tanto – para os padrões melanésios, artefatos mágicos, inimagináveis, como tigelas de aço, facas, espadas, tecidos, vidros, espelhos... Que se transformaram em presente, e os melanésios, assim como nós, eram loucos por presente... E pensaram, precisamos conseguir mais desta ‘carga’, ou dos ‘poderes mágicos’ destes semi-deuses, ou adorá-los... A conclusão dos melanésio foi simples, os europeus eram seus ancestrais – disfarçados –, que haviam regressado do reino dos mortos com incontáveis riquezas... No final do século XIX, missionários luteranos chegaram a Papua Nova Guiné para converter os melanésios sobre o cristianismo... Encontraram uma resistência obstinada dos nativos, contra aqueles ‘sovinas’ semi-deuses, que não traziam presentes, e insistiam em fazê-los entoar hinos em um dialeto estranho... 

Cultos à carga surgiram incontáveis vezes no Pacífico Sul... O mais interessante deles, e principalmente por estar bem documentado, é o culto a John Frum – com as variantes Jon Frum, John From, e também Frumm, Frumme, Fromme... 


Durante a Segunda Grande Guerra, os americanos procuraram estabelecer bases aéreas na ilha Efate, e recrutaram força de trabalho juntos aos nativos nas ilhas de Tanna e Vanatu, ... Quando milhares de trabalhadores regressaram da empreitada, a sociedade inteira foi varrida por uma dramática confusão, e obcecada com as histórias sobre homens brancos e pretos, que possuíam riquezas além dos sonhos dos ilhéus... Vinham dos céus em aves de prata, e podiam voar amarrados a grandes bolsas cheias de ar... 

Os ilhéus então deixaram de ir à igreja e começaram a construir pistas de pouso, armazéns e mastros de rádio de bambu, na crença de que, se tinha funcionado para os norte-americanos, na Efate, funcionaria para eles em Tana...  Modelos esculpidos de aviões, capacetes e rifles norte-americanos foram feitos em bambu e usados como ícones religiosos... 

Os ilhéus começaram a marchar em paradas com as letras USA pintadas, esculpidas ou tatuadas no peito e nas costas... John Frum surgiu como o nome do novo Messias deles, muito embora não haja registros de qualquer soldado norte-americano com este nome... Mas o nome ‘John’ era muito comum, assim como as inscrições ‘From USA’, que podem ter sido modificadas para ‘Frum’... ‘John From USA’... Um pequeno mal entendido pode ter sido suficiente para o reconhecimento de um padrão equivocado...

Também são utilizadas bandeiras aliadas, como a da Inglaterra, e é exibida uma foto do Príncipe Phillip, Duque de Edinburgh... A bandeira e a cruz característica da Cruz Veremelha também é exibida... Os ilhéus guardam muitos artefatos da época, uniformes, fotos, objetos, marcham vestindo calças jeans... 

Quando o último soldado norte-americano deixou o arquipélago no fim da guerra, os ilhéus previram o retorno de John Frum... O movimento continuou a florescer e, em 1957, uma bandeira norte-americana foi erguida na baía Enxofre para declarar a religião John Frum como oficial... Nesse dia, todos os anos, é celebrado o culto a John Frum... Os fanáticos acreditam que John Frum está esperando com seus guerreiros, e escondido no vulcão Yasur, de onde virá para entregar muitos presentes ao povo de Tana...

Monumento a John Frum
Durante as festividades sagradas, os anciãos marcham em imitação do exército americano... Uma espécie de desfile militar com direito a danças tradicionais... O sincretismo e a convergia são marcas típicas do fenômeno da transmutação cultural... O impacto da chegada dos americanos e a respectiva bonança advinda deste evento, deixaram marcas profundas neste povo – autóctone -, que converteu e misturou antigas crenças, às novas especulações, em uma tremenda confusão sincrética, capaz de parir uma nova crença bem diante de nossos olhos...

VIVER É APRENDER!!!


Carlos Sherman

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