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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Educação Já...


Profissão docente: quem quer ser professor hoje?

Por Glaucia Melasso (Especialista em Tecnologias Educacionais) e Luiz Claudio Carvalho (Docente no Instituto Federal de Brasília).

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Responder esta questão é simples: reúna 10 jovens que cursam ensino médio e pergunte: quem quer ser professor? Sem sombra de dúvida a resposta será um profundo silêncio e rapidamente surgirão muitas negativas...

Caso a dúvida persista, reúna 10 professores de ensino fundamental ou médio e pergunte: quem quer continuar a ser professor? Talvez 6 professores respondam com uma negativa apressada, 3 responderão com outra pergunta – em quais condições? – e talvez um único solitário afirme, corajosamente, um SIM heróico.

É na perspectiva de discutir com este sujeito solitário que iniciamos este debate.

Olhadas rápidas na internet, leituras de jornal, conversas de corredor em escolas, faculdades e universidades apontam os motivos óbvios desta debandada geral de escolhas profissionais e carreiras: salários baixos, péssimas condições de trabalho, ausência de perspectiva, violência, desinteresse dos alunos, das famílias, do poder público, falta de prestígio social, formação deficiente e pouco atrativa...

Discutir profissão docente hoje no Brasil requer – além de estudos sociológicos, econômicos e antropológicos – um passeio pelo imaginário popular sobre a profissão.

Quem se lembra da música “Meus tempos de criança”, de Ataulfo Alves? A visão romantizada da professora primária, normalista, bonita e dedicada aos alunos, que remonta à infância feliz... Onde está essa professora? Aliás... Em quais esquinas de nossa história da educação se perderam a escola normal, os institutos de educação, depois os institutos superiores de educação... Em qual UTI se encontram os cursos de pedagogia e licenciatura?

E a cinematografia sobre a carreira? Em geral os professores retratados estão muito mais próximos de um Dom Quixote alijado de seu Sancho Pança do que de um profissional real, daqueles que vai dar sua aula todos os dias e recebe um salário pelos serviços prestados. Exemplos são muitos. Dos clássicos “Good Bye Mr Chips” e “To Sir with Love” ao apaixonante e recente “Take the Lead” com Antônio Banderas. Da China temos o belo “Nenhum a menos”...

A produção cinematográfica brasileira deixou poucos registros sobre o profissional da educação, mas entre estes é possível destacar “Central do Brasil” e “Anjos do Arrabalde” que, apesar da crueza, confirmam a visão romântica sobre a missão idealizada do professor.

Há alguns anos surgiu um adesivo desses que se colocam nos vidros traseiros dos automóveis que dizia: Hei de vencer mesmo sendo professor. O adesivo - lançado por um sindicato de professores - trazia, à época, uma mensagem que poderia ter interpretações diversas.

Uma das interpretações era: apesar do salário miserável que recebo, não pretendo morrer de fome. De certa forma esta interpretação não perdeu a sua atualidade. Professores de escolas públicas municipais, estaduais e federais de qualquer nível de ensino eram mal remunerados, alguns de forma aviltante. Esta condição ainda permanece.

Uma outra interpretação era que apesar do meu trabalho não ter reconhecimento social, continuarei tentando. Atual ainda!

O adesivo também podia ser interpretado como eu sei que não valho muita coisa, mas é o que dá para fazer. Uma interpretação assim talvez seja conseqüência das outras já citadas. Os percalços pelos quais o professor é obrigado a passar atiraram a sua auto-estima para um lugar desconhecido. É possível ver naquele adesivo um exemplo de como um grupo de profissionais pode escrever o seu próprio obituário. Fosse vivo, Sócrates “cicutaria” aquele adesivo e seus autores. Antes, talvez dialogasse um pouco.

Na esteira deste adesivo, a televisão brasileira disseminou, através do programa humorístico de Chico Anísio, a “Escolinha do Professor Raimundo”, caricaturando, de vez, o destino do professor brasileiro, com o bordão “e o salário, ó!”

E como se não bastasse, num golpe final a nova geração registra on line a visão sarcástica sobre possíveis reações de professoras a respeito das políticas de valorização do ensino e do magistério em charges eletrônicas. As professoras retratadas hoje diferem em muito daquela professorinha do Ataulfo Alves ou dos filmes americanos.

É possível, ainda, relembrar as tantas denominações que aparecem para escamotear a profissão docente. Seria a professora uma “tia”? Seria o professor um “educador”? Seria o professor um “mediador da aprendizagem”?

E nos últimos tempos em que também o papel do professor é colocado em questão frente aos avanços das tecnologias da comunicação e da informação?

Todas as análises econômicas sobre o Brasil na vanguarda do desenvolvimento econômico mundial apontam para o gargalo que representa nosso atraso educacional, fartamente registrado pelas pesquisas internacionais.

Numa correlação simples: o Brasil não oferece uma educação minimamente razoável porque os professores não são bem formados, não têm condições de trabalho e de carreira.

E o pior, caminhamos para uma situação em que estes problemas serão solucionados: não teremos mais professores, pela falta completa e absoluta de profissionais interessados em ingressar e continuar na carreira.

Ficamos assim?



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