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terça-feira, 28 de junho de 2011

Afeto, eis a palavra chave...




Por 10 votos a 0 o STF, finalmente, equiparou em direitos, as uniões cíveis homo afetivas e as uniões hétero afetivas... ‘Justiça seja feita’, e pelo menos desta vez, a justiça foi feita... Leiam cuidadosamente, em nossa Constituição Federal, o Artigo 5º, onde está escrito que ‘Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes’... E segue... Pois onde se lê, que agora se cumpra...

Esta discussão bem poderia ser uma  notícia superada, não fosse pelo fato de um juiz, evangélico, ou seja, um juiz 'pastor' em um país laico, ter anulado um casamento homo afetivo, e portanto constitucional e de direito... É mole ou quer mais? Então alguns falsos moralistas, ou ignorantes de carteirinha como o imbecil do Bolsonaro, assim como a bancada evangélica no Congresso, tratam de espernear, e incorrer em CRIME por discriminação... Estes guardiães da hipocrisia, avaliam os riscos ao seu ‘negócio’, e marcham contra a inteligência, o bom senso e a liberdade... Mas aparentemente, a constitucionalidade e o estado de direito haverão de prevalecer...

Vale lembrar ainda, desmistificando o casamento cível, que o ‘matrimônio’ reza, acima de tudo, sobre a questão patrimonial... Motivo pelo qual, em um passado não muito remoto, só podiam casar-se, aqueles que dispusessem de patrimônio significativo... E vale lembrar ainda que, os estados europeus foram constituídos às custas do ‘uso inescrupuloso’ do recurso do ‘casamento de patrimônios’, e do ‘casamento por/de interesse’... O AFETO veio depois... Ou melhor, a união meramente AFETIVA, veio bem depois... Alguns dentre nós, tiveram avós ainda submetidos à união ‘hétero patrimonial’...

A Igreja foi uma grande incentivadora deste ‘esquema’, nada afetivo... Seguindo a triste tradição abraâmica, tanto judeus, quanto cristãos ortodoxos, e os new cristãos, pentecostais, crentes, e algumas facções protestantes, casam apenas entre si, e ainda baseados no carcomido arranjo familiar ou da comunidade... Assim como os islâmicos, sendo que estes últimos, além dos arranjos por interesse, praticam o velho esquema católico, com um dote que deve ser pago pelo ‘noivo’, à ‘noiva’... Melhor seria dizer, do contratante à contratada... Os hindus e seu pernicioso sistema de castas, também seguem o sistema dos dotes, sendo que desta vez, quem paga o pato é a família da ‘noiva’... Motivo pelo qual, até hoje, muitos camponeses afogam seus bebês do sexo feminino, nas águas 'sagradas' do Ganges... A motivação, apesar de toda a hipocrisia e terror, é mesmo patrimonial...

Poderíamos então examinar a questão da seguinte forma, tais ‘acordos’, supracitados, ou seja, os casamentos por interesse, podem ser héteros, mas não são afetivos... Se por um lado temos um homem e uma mulher, o que garante o quesito ‘hétero’, de outro lado não temos AFETO algum... De forma que, o casamento em sua concepção, e dentro de nossa cultura, ainda versa primeiramente e principalmente sobre o esquema patrimonial, e esta é a verdade... Não importando o afeto... Deixemos a hipocrisia bolsonárica a um lado, encaremos a verdade...



De forma que, duas ‘pessoas’ que realmente desejam partilhar uma vida AFETIVA, devem ter o direito de compartilhar os bens produzidos por esta união... E consequentemente a questão da herança deve contemplar homo afetivos, na mesma medida em que contempla os hétero afetivos... Acredito que o presente e o futuro nos reservam um status de menos hipocrisia e interesse, e mais afeto, hétero ou homo... E isso é bom... Por que, então, haveríamos de questionar o direito ao afeto, e a qualquer cidadão brasileiro, que deseja unir-se em um acordo cível, a qualquer outro cidadão, brasileiro ou estrangeiro devidamente documentado? Não importa de que sexo for... E antevejo a discussão de permitir que uniões afetivas, de fato, possam envolver não dois, mas três ou mais pessoas... Por que não? Três ‘pessoas’ não podem decidir viver juntas? Em que princípio nos apoiaremos para negar esta comunhão?




Então, agora, duas ‘pessoas’ poderão constituir família e legitimar está união diante do estado... A questão familiar implica também em discutir sobre filhos, e sobre adoção... Este é um outro tema, que precisará ser apreciado de forma constitucional, e à luz da capacidade de educar, proteger e dar afeto... E que merece, igualmente, um destino digno e não hipócrita... Sempre e quando, uma ‘família’ demonstre condições de educar, proteger e brindar afeto condignamente, ela estará habilitada a adotar filhos... Isto é justo... Um casal hétero não garante a qualidade da educação, apenas por ser hétero... Muitas crianças foram criadas apenas pela mãe, e poucas, apenas pelo pai, e nada indica que por causa disso apresentem qualquer tipo de problema relacionado ao estabelecimento de laços sociais, ou dificuldades em encontrar o seu papel na comunidade, ou de amadurecimento emocional...


Não obstante, e espero que a minha posição até aqui, em apoiar o fato de que ‘pessoas’, cidadãos, todos, sem nenhum tipo de distinção, tem o direito de constituir família, esteja devidamente fundamentada... Neste ponto, passo a abordar o tema por outro ângulo... Tenho uma importante questão a colocar, sobre o debate ‘homo afetivo’: '- Ele exclui os hétero afetivos'... Rsrsrsrsrs... Pode parecer piada, mas não é... É uma questão nova, e bem colocada... A grande vitória do movimento, na realidade, foi bem mais ampla e profunda... Na verdade, lutamos, todos, pelo direito de todo cidadão, em unir-se perante o estado... Igualitariamente... Esta é uma vitória de todos... Devemos celebrar a IGUALDADE... Quem está contra isso? Aqueles que não reconhecem o AFETO e o DIREITO... São os que ‘marcham’ por Jesus, e os que marcham contra os homo afetivos, ou os que marcham contra ‘qualquer direito universal’... São os que marcham contra a liberdade, a igualdade, e a justiça...

Se você não acredita em deus irá para o inferno, ou será terrivelmente morto no Apocalipse... Ou já foi cozido nas fogueiras da Inquisição, ou já foi morto por toda a intolerância religiosa que varreu a história... Porque o próprio deus comandou a primeira Jihad no Antigo Testamento... 2.500.000 de mortos por não glorificar o recém criado deus de Abraão... Não podemos de forma alguma nos ver convertidos em algum tipo de credo... ‘Creio que ser homo afetivo é bem melhor do que hétero afetivo’... Bom, não estamos matando ninguém para impor isso, como os crentes de ontem fizeram, mas estamos fazendo uma ‘propaganda sectária’... E isso não é legal, e não é verdade... Ser homo ou hétero afetivo não é nem melhor nem pior... São apenas opções sexuais...

Podemos estar começando a defender a causa errada, ou a causa certa de forma errada... Não podemos excluir os igualmente ‘afetivos’, os que prezam o afeto e a liberdade, e que por acaso são héteros... Isso precisa ser reconsiderado... No passado a luta pode ter sido em trincheiras ‘homo’, ok... Mas hoje não podemos seguir assim... A Parada Gay deve servir à liberdade, porque decorre dessa luta... E portanto nem precisaria se chamar ‘Gay’, e sim ‘Dia da Liberdade, Justiça e Igualdade’... Não tem o mesmo apelo de marketing, rsrsrsrsrs, mas seria o caminho da coerência... E deve abrigar todos, sem distinção... Todos os que defendem a liberdade... E isso não pode de forma alguma excluir o héteros... Ou, melhor seria, uma parada ‘contra o falso moralismo’, sei lá... É uma questão a ser pensada...

Sou hétero afetivo, mas já estive em três edições da Parada Gay... Estávamos lá, toda a família, minha esposa, minhas filhas, e o nosso mascote, apoiando o direito ao AFETO... ‘Consideramos justa, toda forma de amor’ (Lulú Santos)... Ou seja, apoio à causa, mas não por causa da bandeira LGBT... Comparecemos por causa da verdade, da justiça, da vida... Comparecendo com o nosso apoio à liberdade, e ao direito cidadão, esteja onde estiver... Isso faz toda a diferença, porque a parada gay não pode ser convertida em uma ‘apologia’ apenas a um estilo de ‘afeto’, ou a quatro opções... Senão seremos uma outra face da mesma moeda... Tenho amigos e amigas no movimento, e coloco o meu ponto de vista abertamente, e muitos compartilham da idéia de que poderemos recair em um espécie de ‘preconceito ao revés’, ou mesmo um ‘modismo’...

Examinem a questão... Sou hétero afetivo, por acaso, e escuto George Micheal, Pet Shop Boys, Maria Cadú, da mesma forma que outros artistas héteros... Meus amigos e amigas LGBT, só freqüentam lugares LGBT, discotecas LGBT, cafés LGBT, shows LGBT... Uma reflexão mais profunda sobre o tema poderá levar a um desarme das trincheiras... Temos que defender a causa da liberdade individual, e dos direitos iguais... De fato... Na verdade não deveríamos bradar slogans do tipo ‘por um mundo gay’, como já escutei... Isso assusta tanto quanto o slogan ‘por um mundo islâmico’, e por quê? Porque os dois slogans pregam sobre um mundo que abriga somente uma opção...

Para fechar, um amigo me disse: ‘- Mas os homo afetivos estão interferindo no direito dos héteros afetivos’... Ao que retorqui com firmeza: ‘- Claro que não... Estão apenas lutando por direitos iguais, individuais’... Mas ele continuou: ‘- Não, estão fazendo apologia a homo afetividade, como trazendo vantagens e como uma melhor opção’... Como uma pregação religiosa... E concordei que, de certa forma, isso é verdade... E é isso que precisa amadurecer no movimento... Como rolou com o racismo nos Estados Unidos... 

Hoje, a causa é outra, existe uma apologia do tipo, ‘só negro com negro’, e isso não é legal... É sectário, discriminatório... É burro, como foi burro e criminoso o racismo... Estamos apagando fogo com fogo... Não podemos pregar ‘só homo com homo’, porque será sectário... Temos que mudar com o tempo, e ‘evoluir o movimento’... A luta é outra, ou melhor dizendo, a luta deveria ser outra, na minha modesta visão...

A homo afetividade não é melhor do que a hétero afetividade, é apenas diferente... Uma amiga homo afetiva, e que por sua vez caracteriza sua preferência como ‘entendida’, alega que duas mulheres se entendem melhor do que um casal hétero, porque ‘mulher entende mulher’; e que todo homem é assim, ou assado... É óbvio que não procede, nem minimamente... É uma forma de generalização, e preconceito... E digo que, duas pessoas se entenderão melhor ou pior, dependendo de muitos fatores, além do sexo... Depende da qualidade do relacionamento... Mas neste caso, existe sim uma apologia clara, porque, é ‘melhor ser entendida’, que, supostamente ‘desentendido’, rsrsrsrs... Não é por aí...

A questão está passando do ponto, e uma luta justa e digna, pode estar mudando completamente de sentido... Lembro às minhas amigas ‘entendidas’, e tenho muitas, que mesmo preferindo outra mulher, ‘o padrão hétero’ se vê representado, quando uma das partes assume claramente os trejeitos masculinos... Isso não é legal... Ou seja, retornar ao padrão hétero... A parte que assume o papel masculino está, palidamente, caricaturando o papel masculino... Como em uma relação hétero, e isso não tem o menor sentido... Uma mulher pode gostar de outra sem precisar seguir exatamente os passos de um homem... Pode reinventar-se, e de forma livre, desenhar o seu perfil... É isso que o movimento pela liberdade precisa garantir... O direito a ser diferente, viver de forma diferente, e mesmo assim merecer o mesmo respeito, e gozar dos mesmos direitos...

E o modismo fica muito evidente quando padrões de roupa, cabelo, etc, entram na dança... Para sentir afeto por alguém do mesmo sexo não preciso adotar um padrão completo, como ser EMO, Heavy Metal, Gótico, ‘entendida’... Quando toda esta poeira baixar, e pudermos relaxar o aspecto de luta por direitos, a homo afetividade deverá encontrar o seu caminho longe de clichês... A livre opção homo afetiva também precisa ser melhor entendida, e está sendo... Da mesma forma como outros traços da personalidade, existem componentes genéticos, meméticos, e comportamentais... Neste momento, identifico vários aspectos que denotam modismo... Temos um ambiente mais favorável para que as pessoas saiam do dito ‘armário’... Em vários aspectos da vida, inclusive na questão religiosa, ou melhor dizendo, ‘não-religiosa’, mas mesmo assim, estou fortemente convencido de que vivemos um modismo, que passará... Ficarão do mesmo lado os que prezam o afeto, seja ele homo ou hétero...

A Parada Gay, representa, inegavelmente, o maior fenômeno comercial da cidade no momento... Um esquema festivo, muito similar ao impacto do Carnaval, que é importante para a economia da cidade... Mas como movimento, a Parada precisará amadurecer, e o ponto de inflexão, e de reflexão, é agora... Para que não se converta também, em uma colorida caricatura... O movimento deverá separar o homo afeto de fato, do modismo puro e simples de ocasião... O tempo será o melhor remédio, também neste caso... Mas as importantes conquistas do movimento permanecerão... Este debate, e os felizes desdobramentos, estão contribuindo, e digo mais uma vez, para uma sociedade mais livre, justa e igualitária... Mas teremos chegado ao fundo da questão, quando não mais pronunciarmos as palavras-conceito homo e hétero... Quando qualquer forma de amor e de afeto, for simplesmente respeitada... INDISTINTAMENTE... Sem bandeiras, sem marchas, sem paradas, sem gênero...

Termino dizendo, com o bom humor que caracteriza e parada, que até os Incas apoiaram o movimento, em seu tempo [pela bandeira]... Então a luta é antiga, dizem que Atahualpa era ‘entendidíssimo’, e o helênico Alexandre, o Grande, sem comprometer a valentia, cantava: ‘It´s raining man, aleluia’...

Carlos Sherman

Atahualpa liberando geral...

Bandeira INCA...


Um comentário:

  1. A ex-sei-lá-o-que, Myriam Rios, atual Deputada pelo Rio, e pertencente á 'facção' denominada 'Renovação Carismática CATÓLICA', está brigando pelo 'direito' descriminalização do discriminação... Ou seja, argumenta que 'quer ter o direito de demitir alguém por ser homo afetivo'... Devemos perguntar a ela se além da discriminação por opção sexual, ela também quer permitir a discriminação por 'credo'... Isso tudo é uma tremenda palhaça... Falso moralismo, esquema eleitoral, debaixo do teto do Catolicismo, e de toda a imundice e da pedofilia, que diga-se de passagem é crime... A Igreja Católica é o maior armário que existe... Quando as portas forem abertas, não sobrará um pra contar a estória...

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