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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Não perca tempo com as batalhas que você não precisa lutar!



Não perca tempo com as batalhas que você não precisa lutar! Mas, afinal, o que realmente importa?

[Para Indi, minha esposa]

Hoje refletia sobre estes dois pontos. O primeiro deles me veio na forma de uma chamada para um artigo em inglês que me pareceu incompleto e inconcluso. Apesar do excelente título o artigo não respondeu ao que prometia responder; ou talvez eu tenha esperado algo mais, algo além do que o autor poderia alcançar, e desconfio que o tom pomposo e messiânico possa justificar o fracasso deste intento. O segundo ponto veio exatamente para responder ao vazio deixado pelo primeiro, já que – repito – a chamada me pareceu estupenda: Não perca tempo com as batalhas que você não precisa lutar! Mas, afinal, o que realmente importa? O que merece ou não o nosso sangue, suor e lágrimas?

Enquanto debatia com a minha adorável esposa sobre uma eventual crise em seu ambiente de trabalho, percebi o quanto nos debatemos em arenas que simplesmente não nos levaram a nada... Mas bem sei, pela neurociência e pela genética comportamental – e isso impede que este post seja creditado à seção de auto-ajuda - que ‘nós somos quem somos sem intencionar sê-lo’... Ao que a minha esposa agregaria: “ninguém dá o que não tem”... Ou ainda, e parafraseando a Schopenhauer, poderíamos resumir com brilhantismo que: nós aparentemente escolhemos, desejamos, mas não podemos escolher o que iremos escolher, ou desejar o que iremos desejar... Nem podemos esperar que as pessoas reajam como nós, ou como gostaríamos que reagissem, ou como o mestre Shaolin lhes indicou, ou como este post ou aquele orienta que façamos... De forma que apenas as pessoas suscetíveis ao aprendizado, e com a necessária maleabilidade comportamental, reconhecerão o valor destas reflexões; e isso, se de fato houver algum valor nas ideias que serão dispostas a seguir, ou se houver algum valor na forma como as envelopo e encaminho, através da linguagem e do tom escolhido...

Aterrissando do passeio neurofilosófico, gostaria de retornar às lutas que merecem ou não serem travadas... Como exemplo, acredito que todos se lembrarão de alguma personificação daquele cara que só liga quando tem algum problema: o “interesseiro”, o “chupinha”... Bem, eles existem e estão por toda parte; e você conhece o cara - ele só liga quando precisa de alguma coisa, e sem nunca agregar qualquer valor às suas lutas. Este cara não passa de um aproveitador! Então o que faremos? Daremos ao “tipinho” uma tremenda lição de moral, e nos desgastaremos com esta luta? E este é o ponto!

E a minha resposta é: DEPENDE! Depende de quê? De ‘cui bono’; de qual o benefício para as nossas vidas. E por nossas vidas eu também entendo as nossas causas. A vida, a vida biológica, está sempre nos cobrando sobre “o benefício de fazer algo", ou "qual o seu benefício?” - sendo implacável em sua contabilidade. Então, e se o aproveitador está apenas passando ao largo, não percamos tempo com ele; mas se ele está em seu caminho, se está – por exemplo – furtando a sua luz, roubando o seu brilho... então a questão é outra: este cara precisa ser enfrentado. Ainda assim, não ganharemos nenhum round agindo com raiva ou amargor, e tais emoções só servirão para nos depauperar, ofuscando ainda mais o nosso eventual valor. 

Por outro, comento que a nossa capacidade de lidar com problemas ao longo do dia é limitada; como um tanque de combustível que vai sendo consumido – e isso também vem da neurociência. Além de que, os nossos vieses de humor também dependerão de nossa neurofisiologia, além da nossa rede de relacionamentos diárias - onde ricocheteamos com uma bolinha de ‘pinball’ -, das substâncias e alimentos que ingerimos, entre outras influências sobre o tênue equilíbrio bioquímico de nosso cérebro. Sendo assim, uns disporão de tanques maiores do que outros, uns disporão de mais reservas neuropsicológicas para lidar com problemas do que outros; de forma que, e mais uma vez, não se preocupe com o espertalhão, a menos que ele esteja diretamente em seu caminho.

Tenho uma natureza calma, “pero” aguerrida... Quando estou tratando daquilo que Russell batizou de “integridade intelectual”, torno-me um guerreiro audaz; muitas vezes fora de hora, e sem a correta medida, e luto lutas que definitivamente não me convém lutar. Acalento um conceito filosófico, que serve como excelente desculpa ao meu orgulho ferido, de que estou contribuindo – naquele debate pelo Facebook – para "um futuro melhor, ao confrontar a ignorância e o fascismo com um brado retumbante"... Mas "cui bono?"... Mas, se isso realmente é verdade em algumas “batalhas”, em outras a minha irritação não passa de investimento inútil de tempo ou e precioso conhecimento... 

Recentemente, e só recentemente, tenho sido capaz de “deixar passar” algumas lutas inglórias; e este não é um convite à passividade – e jamais... Este é um convite ao necessário estabelecimento de prioridades diante de uma vida finita, de um tempo finito para “lutar”... E, sendo assim, deixo passar algumas “pendengas estúpidas”, não respondo, e muitas vezes esqueço a mensagem mal-criada em minha caixa de entrada... Mas, para aqueles que mantêm o respeito, a minha resposta sempre virá, e nunca deixo dar atenção a minha correspondência diária – mesmo que seja apenas para dizer “obrigado”...  

E voltando as batalhas que merecem ser lutadas, recomendo ainda que nunca utilizemos a técnica da "terra arrasada"... E nunca dinamitemos “pontes”... O ódio pode parecer um remédio para o seu orgulho ferido, mas isso não passará de ilusão cognitiva. A misericórdia o tornará admirável, e certamente servirá de exemplo, mesmo aos que capitularam diante de sua insistente e efetiva superioridade... 

No mais, concentremo-nos naqueles que querem viajar conosco, e realmente nos reconhecem como companheiros de viagem... Não precisamos trabalhar e conviver apenas com os nossos "gêmeos univitelinos", mas sem dúvida alguma devemos trabalhar para e com quem compartilhemos sonhos e objetivos. Enfoquemo-nos naqueles que nos reconhecem como companheiros ou líderes, e deixemos os desafetos pra lá – sempre e quando não sejam adversários diretos... E se assim for, e se houverem contendas, sejamos honrados e éticos... 

Ninguém pode alegar dispor de bons motivos para não se empenhar em fazer a coisa certa... E "ter tempo" - ou não - para dedicar-se a algo, não passa de uma questão de prioridade – lembre-se! Evite ser cortante, e sem essa de bater no peito para dizer que “eu sou assim, e sempre serei assim” – pois não existe mérito algum na grosseria e na arrogância, nem mesmo se vier da barriga, ou do berço... Somos essencialmente sociáveis – o homem, a humanidade; ser desumano e agressivo não o tornará mais respeitável, contribuindo apenas para infundir o medo... E medo e amor – ou amizade - não caminham sobre a mesma via... 

Um líder não precisa ser temido, mas admirado... A inigualável violoncelista Jacqueline du Pré tinha algo espetacular a dizer sobre isso:

"A primeira responsabilidade de um líder é definir a realidade. A última é dizer obrigado. Entre estes dois extremos o líder é deve servir.” - Jacqueline du Pré

E algo mais a declarar...

"A melhor coisa - em qualquer momento - é estar disposto a desistir de quem somos, afim de nos tornar tudo o que podemos ser." - Jacqueline du Pré

Finalmente não nos esqueçamos da regra de ouro: o mundo dá voltas – a as pessoas que passam por você na subida podem ser as mesmas que você encontrará na descida... Não importa o quão brilhante e talentoso você seja, e no fim das contas, a única coisa que fica é a memória de como você tratou as pessoas... 

Então, e sendo assim, aproveito estas derradeiras linhas para pedir perdão a quem quer que eu possa haver magoado, justa ou injustamente - afinal o meu objetivo sempre foi corrigir a injustiça, e nunca causar a dor... O meu propósito, aliás, sempre foi de seguir em frente, contribuindo de uma forma ou de outra para aliviar o sofrimento alheio... E ainda tenho tempo para melhorar – e este texto visa infundir o mesmo desejo em VOCÊ...  

Humano, troppo umano – até o fim...

Carlos Sherman

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