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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Curiosity... Por Gleiser...




Só se você estiver em hibernação profunda ou inconsciente terá perdido, nesta semana, em meio às várias transmissões olímpicas, o sensacional feito dos engenheiros e cientistas da Nasa. Após anos de preparativos e meses de voo, a sonda exploratória Curiosity (Curiosidade) foi depositada em Marte, o planeta que tanto fomenta a imaginação humana. A máquina é do tamanho de um Mini Cooper, pesando em torno de uma tonelada. Transportá-la por centenas de milhões de quilômetros e pousá-la no local desejado é um feito de tirar o chapéu. E tudo foi feito automaticamente, por computadores a bordo, já que o pouso levou sete minutos e as comunicações com a Terra demoram 14, devido à distância.

Ou seja, um robô ultrassofisticado pousou por si só em Marte. Sua função principal? Buscar por traços de vida, atual ou extinta, na superfície e no subsolo marciano.

Hoje (escrevo na quinta), vi as primeiras imagens transmitidas pela Curiosidade após a aterrissagem: meio vagas, mostrando uma colina à distância, a borda da cratera Gale. Elas podem ser vistas em: http://www.nasa.gov/mission_pages/msl/multimedia/PIA15691.html. Quem gosta de Twitter pode seguir a sonda: @MarsCuriosity.

Marte é como já sabíamos: seco, frio, proibitivo. Na imagem, podem ser vistos pedregulhos na superfície. Com seus instrumentos, a Curiosidade vai coletar amostras do solo e do subsolo e analisá-las quimicamente, buscando traços de matéria orgânica ou de processos metabólicos que indiquem a presença, no presente ou no passado, de algum tipo de vida.

Marte de hoje, com uma atmosfera mais rarefeita do que a da Terra, composta quase que só por gás carbônico, é bem diferente do planeta de bilhões de anos atrás. Por meio de estudos da geologia marciana e dos depósitos de água que ainda existem lá, estima-se que, quando a Terra era ainda um bólido de fogo e lava, Marte já houvesse se acalmado e fosse bem mais quente e úmido.

Cânions ressecados indicam que a água já fluiu em abundância por lá. E onde há água pode haver vida. Claro, muita gente espera que a Curiosidade encontre algum traço de vida em Marte, mesmo que já defunta. Mesmo se não encontrar, aprenderemos muito. Afinal, acoplada à questão da existência de vida extraterrestre está sua abundância ou raridade. Se não encontrarmos sinais de vida em Marte, diferente mas não tão diferente da Terra, ficará difícil justificar que exista vida em abundância fora daqui. Por isso buscar vida em Marte é tão importante. Ela pode estar lá e escapar aos nossos métodos de detecção; se achar vida na Terra é fácil, em outros locais ela pode estar bem mais escondida ou ter características que desconhecemos, se bem que essa possibilidade seja remota.

Vida precisa de água, carbono e alguns outros ingredientes básicos. Formas exóticas, usando amônia em vez de água ou silício em vez de carbono, são concebíveis mas pouco plausíveis. Temos o privilégio de poder viver essa busca e participar dela do conforto dos nossos lares. Algo que deve ser celebrado como uma das proezas da nossa história coletiva. 

Marcelo Gleiser é professor de física e astronomia do Dartmouth College, em Hanover (EUA). É vencedor de dois prêmios Jabuti e autor, mais recentemente, de "Criação Imperfeita". Escreve aos domingos na versão impressa de "Ciência".

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