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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Sobre a Cultura...




Em meio à um debate caótico sobre estupro, alguém sentencia sobre o determinismo cultural:

Sim. E esse é o problema da humanidade. Culturas e mais culturas. Cadê a cultura humana? Baseada no respeito mútuo? Não tem. Porém, esse não é o objetivo do debate. A "coisa" aqui é que alguém que foi ensinado a não atacar uma mulher não irá atacá-la, mesmo sentindo o desejo. Alguém que o faz mesmo sabendo que é errado e diz que agiu por "hormônios" deve ser impedido de viver em sociedade.

OBJETEI:

Este assunto é bem mais complexo do que um chat de opiniões, e estudo o tema a mais de 20 anos... Primeiramente dizer que 'este é o problema da humanidade', é o pleno desconhecimento sobre antropologia, e a dinâmica da convergência cultural, contingente e INVOLUNTÁRIA... Jessica, não existe uma 'humanidade' a ser culpada, de forma animista, como se houvesse uma tremenda articulação, como um espécie de livre-arbítrio cultural.... Não, não procede... Cultura é o conjunto de técnicas e costumes de um dado povo, circunscrito a uma região geografia, no que tange à afinidade ou similaridade... E isso está em constante mudança, sempre, fundindo-se ou canibalizando outras culturas, sem cessar... Estamos tateando - sem intenção articulada - na busca por viver mais e melhor... 

A multiplicidade cultural não é uma escolha, e sim o resultado da interação entre humanos e seu meio...

Depois, devemos analisar os aspectos genéticos e neurofisiológicos da espécie humana, e sua capacidade de combinar conceitos atuais com o aprendizado anterior, assim como enfrentar o problema da adaptabilidade com o meio... A isso se somam a climatologia e a geografia... De forma que o assunto é multidisciplinar e complexo, e nada ideológico... A Sociologia inclusive está montada sobre a falácia da tábula rasa, e do homem como produto exclusivo do meio... O fenômeno social não é explicado apenas - nem principalmente - por fatos sociais [ominia cultura ex cultura], e sim, e sobretudo, pela natureza humana... É a natureza humana que imprime sua marca na cultura e não o contrário... Mas a cultura devolve na forma de feedback tais conceitos para o grupo - dinamicamente... E neste ponto, devo lembrá-la de que o estupro não é nem de longe a regra em nossa sociedade... De forma que não podemos, sob nenhum pretexto, extrapolar um comportamento doentio para a humanidade como um todo... E finalmente, concordo com você que uma pessoa que vive à margem de nossos acordos sociais e princípios, e de forma tão terrível, deve ser privada do convívio com outra pessoas... Aí entramos no problema da Justiça, e vem a pior parte: o sistema carcerário... Mas tudo isso precisa descer da superfície da eloquência, para o encontro com os devidos e necessários conhecimentos correlatos, e com os princípios que regem os nossos acordos sociais e leis... Recomendo a leitura de 'Tábula Rasa' - Steven Pinker, 'O que nos faz humanos' - Matt Ridley, 'Os Dragões do Éden' - Carl Sagan, 'Cérebro e Crença' - Michael Shermer, entre outras excelentes obras...

Mais a minha amiga, apesar de agradecer os livros indicados, tinha sua própria objeção a fazer:

"Porém, vou discordar de tudo. Entendo que cada cultura se desenvolveu diferente por vários fatores. Mas a humanidade, nem que seja só uma "parcela" de algumas culturas, já desenvolveu sua "inteligencia" de um modo a respeitar (respeitar sim Fernando, porque como eu disse, somos uma espécie provida de consciencia, não nos compare com outras espécies, que por mais que eu não nos ache especial, nós somos sim diferentes das demais) todos os indivíduos, humanos ou não, para convivermos em sociedade. Não pense que eu não dou importancia ao desenvolvimento das culturas passadas, pois foram elas quem nos fizeram chegar ao que chegamos hoje, porém, não posso aceitar de forma alguma que costumes passados, como o de estupros dos tempos da idade do bronze, sejam respeitados e ainda por cima justificados na sociedade de hoje. É uma imensa falta de respeito para com a humanidade, que divide esse imenso planeta com outros humanos e outras espécies, proteger culturas que ferem um indivíduo baseado em conceitos absoletos. Hoje podemos sim escolher, antigamente eu concordo que não, porém hoje temos a possibilidade de viver em "harmonia" com tudo e com todos, porém ainda há pessoas que não pensam dessa forma e deixam as culturas que tiram a responsabilidade do ser humano "racional" com esse planeta."



Precisei insistir:

Jessica, não pude identificar a discordância... Primeiramente porque não disse que umas culturas não estão mais bem adaptas e solidárias do que outras... E existem sim sociedades que tomam decisões muita mais inteligentes... Adotam princípios mais interessantes aos seus olhos e aos meus... E nos agradam mais, e devo dizer que estão bem mais evoluídas, porque prosperam a olhos vistos, através de indicadores OBJETIVOS, tais como o aumento da expectativa de vida e a flagrante diminuição da mortalidade infantil... Ou seja, concordamos que umas culturas estão bem mais evoluídas, de fato... E são mais 'inteligentes' em seu conjunto de regras, princípios e leis... E daí??? Objetei pela reclamação de que " E esse é o problema da humanidade. Culturas e mais culturas. Cadê a cultura humana?"... Está em desenvolvimento... Trata-se de um processo e não uma escolha... Este é o ponto... Daí pra ferente torcemos pelo mesmo destino, solidariedade, regras justas, liberdade, etc... De forma que concordamos no objetivo, divergimos no meio... Não posso reclamar do que É, mesmo que prefira que seja de outra forma... Procuro entender livremente o que nos trouxe até aqui, vetores, realidade, para contribuir de forma objetiva em mudar alguma coisa... É isso... Não choro sobre o leite derramado... Quero entender porque caiu, para evitar que caia novamente, e quero ser o primeiro a abaixar e limpar... É uma questão de atitude... Tomara ciência, tornar-se ciente... E não repetir chavões ou palavras de ordem... Mesmo que topasse gritar os mesmos brados que você... Concordamos com os fins, questiono os meios: reclamando...

Você pode até entender a questão da 'importância', ou 'auto-importância', ao negar que somos 'o máximo', mas não se livra do conceito de livre-arbítrio, e pior que isso, livre-arbítrio cultural... Não procede... Respeitosamente... Não é assim que funciona...


Carlos Sherman

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