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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Feliz por entender...




Aqui estou eu, na recepção de uma clínica, e aguardando por um atendimento que deveria ter ocorrido à quase uma hora; e assistindo - por obrigação - a um programa de 'opiniões', como muitos programas 'opinativos' que infestam a televisão aberta... O próprio conceito de 'jurado' já pressupõe a figura de um 'opinante profissional'... Estariam eles talhados para a missão? Duvido... Mas o tema aqui é a 'felicidade'... Parece um tema 100% subjetivo, mas que na verdade, embora trata-se de um tema amplo e complexo, também está regido por certos parâmetros objetivos...

Sempre lembrando que conhecer as regras de um jogo é diferente de prever o resultado...

Compartilhar é muito humano... Somos seres vivos comunicativos e sociais... E tanto assim que tratamos de compartilhar até mesmo as nossas ilusões... Nem tudo é uma mera questão de opinião... Quase nenhuma questão fundamental pode ser rifada em uma enquete de opiniões... Não evoluímos cultural e socialmente por meio de meras crenças opinativas, senão pelo conhecimento sólido... Não assentamos prédios - e nem mesmo castelos - sobre verbetes... 

Lamento profundamente pelo estardalhaço promovido pelo 'achologismo profissional',  baseado em nada mais do que 'autoridade', de Aristóteles a Lair Ribeiro, de Gaparetto a Depak Chopra, do Espiritismo ao programa Saia Justa... Todos querem comunicar e alardear a sua 'opinião' sobre quase tudo, mesmo que não saibam quase nada, sobre quase tudo... Logo abaixo da superfície de cada debate inócuo, residem questões fundamentais, tangíveis, e importantes, esperando para serem elucidadas... 

Já não posso entrar neste jogo cotidiano, dito 'democrático', do 'eu acho que', 'eu não acho que', 'eu sou contra', 'eu sou à favor', sem o devido,  ou mesmo rudimentar, aprofundamento... Sinto-me patético, e assisto aos demais em papéis igualmente patéticos... 'Eu não entendo nada sobre este assunto mas eu acho que'... 'Eu não sei exatamente do que se trata, mas eu sou contra'...

Está provado que aderimos à causas e ídolos, antes de entender exatamente o que REALMENTE está em curso... Aliás, 'REALMENTE' não é um conceito em alta...  Aderimos primeiro, e de forma torpe, para só então procurar argumentos que sustentem uma defesa 'aparentemente racional' de nossas crenças - sejam elas miúdas ou graúdas... A nossa personalidade salta à vista, e optamos não por conhecimento, mas por simpatia ou por desvio de confirmação - um truque ou um bug evolutivo...

Não posso opinar sobre questões relevantes sem o devido conhecimento, sem a devida instrução, desde que entendi que tudo resume algum tipo de saber, e pode ser reduzido a parâmetros objetivos, se pretendemos ir à alguma parte... Basta um pouco de esforço e seriedade... Questões complexas exigem respostas complexas, não se enganem com rompantes milagrosos, e papos de botequim... 

Mas posso esperar para saber... Aumentar a confusão reinante, viver de boatos, não é uma opção... O palanque está ocupado pelos eloquentes e não por sábios... Isso porque muitos, a maioria, reclama 'certezas', e não conhecimento - com bem assinalou Bertrand Russell... Crer, aderir, idolatrar é mais fácil do que pensar, trabalhar, conhecer... Mas, parafraseando Hitchens, o que pode ser assumido sem provas, sem bases, pode ser igualmente descartado sem grande cerimônia...

Carlos Sherman


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