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domingo, 27 de novembro de 2011

Os 10 Maiores Mitos Sobre o Cérebro Humano




Os 10 Maiores Mitos Sobre o Cérebro Humano
Autora: Laura Helmuth
Tradução e comentários: Carlos Sherman

Nota minha:
Laura Helmuth é editora da área científica, escreve para a revista Science, e esteve por 4 anos no Smithsonian. O O Instituto Smithsoniano  é uma instituição educacional e de pesquisa associada a um complexo de museus, fundada e administrada pelo governo dos Estados Unidos. Com grande parte de seus prédios localizados em Washington, D.C., o instituto compreende 19 museus e sete centros de pesquisa, e tem 142 milhões de itens em suas coleções. Foi fundado para a promoção e disseminação de conhecimento pelo cientista britânico James Smithson (1765-1829). No testamento de Smithson, ele declarou que se o herdeiro, seu sobrinho Henry James Hungerford, morresse sem deixar descendentes, o patrimônio dos Smithson deveria ser doado ao governo dos Estados Unidos para a criação de um "estabelecimento para a expansão e difusão de conhecimento entre os homens". Após Henry James morrer em 1835 sem deixar herdeiros, o presidente Andrew Jackson informou o Congresso do patrimônio de Smithson, que consistia de 100.000 moedas de ouro e 500.000 dólares (9.235.277 em valores de 2005). O Instituto Smithsoniano foi então estabelecido como um truste por uma lei do Congresso, sendo funcionalmente e legalmente um órgão do governo dos Estados Unidos.



Repetido na cultura pop por um século, a noção de que os seres humanos só usam 10 por cento de nossos cérebros é falsa. Varreduras mostraram que grande parte do cérebro está envolvida, mesmo durante tarefas simples.

1. Nós usamos apenas 10 por cento de nossos cérebros.
Soa tão convincente, um número preciso, repetido na cultura pop por mais de um século, e o que implicaria em dizer que gozamos de enormes reservas de poderes mentais inexplorado. Mas o que, supostamente, não foi utilizado – 90% -, esta reserva, não pôde ser encontrada. Cérebros são caros, e é necessária muita energia para construir cérebros durante o desenvolvimento fetal e na infância, também para mantê-los na vida adulta. Evolutivamente, não faria sentido para transportar cerca de 90% de tecido cerebral em excesso, e sem utilização. Experimentos utilizando scans (PET ou fMRI), mostram que grande parte do cérebro está envolvida, mesmo durante tarefas simples; e mesmo lesões, em partes diminutas do cérebro podem ter profundas consequências para a linguagem sensorial, movimento, percepção, ou emoção.
Na Verdade, sim, possuímos algumas reservas cerebrais. Estudos - autópsias - mostram que muitas pessoas têm sinais físicos da doença de Alzheimer (tais como placas amilóides entre os neurônios) no cérebro, embora não tenham sido afetadas. Aparentemente, podemos perder algum tecido cerebral e ainda funcionar muito bem. E as pessoas com maior pontuação em testes de QI, se estiverem motivadas, podem ainda render mais, sugerindo que nem sempre levamos nossas mentes a 100% da capacidade.
Não usamos 100% não, mas certamente não temos 90% de reserva.



2. Memórias “Flashbulb" – flshs ou lampejos de memória - são precisas, detalhadas e persistentes.
Todos nós vivemos a experiência de flashes ou lampejos de memória, que parecem tão vívidas e exatas, apesar de instantâneas, geralmente de algum evento chocante, dramático, como o assassinato do presidente Kennedy, a explosão do ônibus espacial Challenger, e os ataques de 11 de setembro de 2001. As pessoas se lembram exatamente onde estavam, o que estavam fazendo, e como vivenciaram a experiência, com quem eles estavam, o que viram e ouviram.
Vários experimentos muito bem elaborados, estudam a memória dessas pessoas, imediatamente após uma tragédia e meses mais ou anos mais tarde. Os indivíduos analisados, tendem a ser confiantes de que suas memórias são precisas, alegando que as memórias “flashbulb” são mais vivas do que outras memórias. Podem ser vívidas, mas as lembranças sofrem decaimento ao longo do tempo, assim como a memória convencional. As pessoas esquecem detalhes importantes e adicionam incorreções, sem consciência de que estão recriando uma cena confusa em suas mentes ao invés de invocar uma reprodução perfeita e fotográfica.



3. Existe um decaimento – da atividade mental - depois dos 40 (ou 50 ou 60 ou 70) anos.
É verdade, algumas habilidades cognitivas entram declínio à medida que envelhecemos. As crianças são melhores em aprender novas línguas do que os adultos, e nunca jogue um jogo de concentração contra alguém com 10 anos de idade, a menos que você esteja preparado para ser humilhado. Os adultos jovens são mais rápidos do que os adultos mais velhos, por exemplo, para julgar se dois objetos são iguais ou diferentes, e podem mais facilmente memorizar uma lista de palavras aleatórias, e ainda serão mais rápidos para contar de trás pra frente, aos sete anos.
Mas a versatilidade das habilidades mentais melhoram com a idade. Vocabulário, por exemplo. Pessoas mais velhas conhecem mais palavras e compreendem as sutilezas linguísticas. Dado um esboço biográfico de um estranho, eles são melhores juízes de caráter. E obtém maior pontuação em testes de ‘sabedoria social’, tais como, como resolver um conflito. E as pessoas, enquanto amadurecem, se tornam cada vez mais eficientes em vez controlar as próprias emoções e encontrar significado em suas vidas.



4. Nós temos cinco sentidos.
Claro, visão, olfato, audição, paladar e tato, são descritos como os nossos principais sentidos. Mas dispomos de muitas outras maneiras de sentir o mundo à nossa volta, e descobrir o nosso lugar nele. A ‘proprioception’ é uma noção de nossos corpos de nosso eu físico, e de como estão posicionados. ‘Nociception’ registra a sensação de dor. Temos também um senso de equilíbrio no ouvido interno, que serve por sua vez ao olho, o estabelecimento da visão, assim como para a sensação de temperatura do corporal, e a noção da aceleração e passagem do tempo.
Em comparação com outras espécies, porém, os seres humanos estão em desvantagem. Morcegos e golfinhos usam o sonar para localizar a presa, alguns pássaros e insetos podem ‘ver’ a luz ultravioleta; cobras detectam o calor das presas pela temperatura - sangue quente -; ratos, gatos, focas e outras criaturas usam seus bigodes "vibrissas" para analisar as relações espaciais ou detectar movimentos; tubarões sentem o campo elétrico na água; pássaros, tartarugas e até mesmo bactérias orienta-se pelo campo magnético da terra.
Você já deve ter topado com estes mapas sobre a detecção de gosto na língua, e o diagrama que mostra que as diferentes regiões são sensíveis ao sal, os sabores doce, azedo ou amargo? Este também é um mito.



5. Cérebros são como computadores.
Falamos de velocidade de processamento do cérebro, sua capacidade de armazenamento, os seus circuitos paralelos, entradas e saídas. A metáfora falha em praticamente todos os níveis: o cérebro não tem uma capacidade ou área de memória, que está esperando para ser preenchida; não executa cálculos matemáticos como um computador faz; e até mesmo nos princípios visuais básicos, a nossa percepção não é passiva, recebendo inputs para reconhecer a imagem, e isso porque nós ativamente interpretamos, antecipamos e prestamos atenção seletivamente aos diferentes aspectos do mundo visual.
Há uma longa história de comparações entre o cérebro e a tecnologia, e questionando sobre qual seria o mais avançado, impressionante e – de forma muita vaga - misterioso. ‘Melhor seria dizer complexo’ – nota minha. Descartes comparou o cérebro a uma ‘máquina hidráulica’. Freud comparou emoções com o acúmulo de pressão em um ‘motor a vapor’. O cérebro mais tarde se assemelhava a uma ‘central telefônica’ e depois um ‘circuito elétrico’, antes de evoluir para um ‘computador’; ultimamente, tem sido comparado a um ‘browser ou navegador Web (Internet). Essas metáforas desfilam clichês: emoções colocadas no cérebro "sob pressão", e comportamentos como circuitos... Pra que?
'Na verdade, computadores foram projetados, tendo por base circuitos neurais, mas a analogia reversa não é muito feliz por muito motivos, e com as novas compreensões sobre o cérebro, revisaremos nossos computadores' - nota minha...



6. O cérebro é hard-wired (circuito elétrico).
Este é um dos legados ‘míticos’ mais duradouros, a metáfora de que "cérebros são circuitos elétricos". Há alguma verdade nisso, como acontece com muitas metáforas: o cérebro está organizado de uma forma padrão, com certas partes especializadas para assumir determinadas tarefas, e os ‘bits’ são conectados ao longo do sistema neural (semelhantes a uma rede elétrica), e comunicando-se, em parte, através da liberação de íons (pulsos elétricos). ‘Em parte porque, enquanto o neurônio é percorrido por uma corrente elétrica, as sinapses – ou conexões – entre neurônios ocorre por via quimica’ – nota minha.
Mas, uma das maiores descobertas da neurociência nas últimas décadas, versa sobre a ‘plasticidade’ do cérebro. Em pessoas cegas, partes do cérebro que normalmente estão associadas à visão, assam a estar dedicadas à audição. Alguém que pratica e aprende uma nova habilidade, como aprender a tocar violino, "reestrutura" as partes do cérebro que são responsáveis ​​pelo controle motor fino, para empreender esta tarefa. Pessoas com lesões cerebrais podem recrutar outras partes do cérebro para compensar o tecido perdido.



7. Uma ‘cacetada’ na cabeça pode causar amnésia.
Ao lado de ‘bebês separados ao nascer’, o tema fovorito das novelas é: Alguém sofre um trágico acidente e acorda no hospital, incapaz de reconhecer os seus entes queridos, ou se lembrar de seu próprio nome ou história. E a única cura para essa forma de amnésia - é claro - é outra ‘cacetada’ na cabeça.
No mundo real, existem duas principais formas de amnésia: anterógrada (incapacidade de formar novas memórias) e retrógrada (a incapacidade de recordar eventos passados). O paciente mais famoso da ciência da amnésia foi HM, que se tornou incapaz de formar novas memórias, após uma cirurgia que removeu, em 1953, a maior parte de seu hipocampo. HM era capaz de se lembrar de eventos anteriores à cirurgia, mas era incapaz de aprender novas habilidades e vocabulário, mostrando que a codificação "episódica" e a memória de novas experiências, se baseia em diferentes regiões do cérebro, assim como as habilidade. ‘As habilidades parecem estar registradas no cerebelo, enquanto o córtex registra a memória episódica. Mas o hipocampo joga uma papel fundamental no processo de selecionar a memória de trabalho que está sendo processada no lobo frontal, quando de nossa consciência, e armazenar no córtex para posterior utilização. Sem o hipocampo, HM deixou de armazenar novas experiências, e após uma ou duas horas de conversação consciente, esquecia tudo o que estava passando’ – nota minha.
A amnésia retrógrada pode ser causada pela doença de Alzheimer, traumatismo crânio-encefálico (pergunte a um jogador da NFL), deficiência de tiamina ou outros insultos ao cérebro. Mas uma lesão cerebral superficial, não pode, seletivamente, prejudicar memória autobiográfica muito menos trazer de volta.



8. Nós sabemos o que nos faz felizes.
Esta questão parece insolúvel. Rotineiramente, superestimamos ‘o que’ ou ‘como’, algo ou alguém, nos faz felizes; uma festa de aniversário, pizza de graça, um carro novo, a vitória do nosso time, ganhar na loteria ou criar os nossos filhos. O dinheiro em geral deixa as pessoas mais felizes. Sabemos que, estatisticamente, a classe pobre declara-se menos feliz do que a classe média, mas a classe média se sentem tão feliz quanto os ricos. Nós superestimamos os prazeres do isolamento e do descanso lazer e subestimam a felicidade que sentimos nas relações sociais.
Por outro lado, as coisas que mais tememos não nos fazem tão infelizes quanto imaginamos. Manhãs de segunda-feira não são tão desagradáveis ​​como as pessoas prevêem. Aparentemente, insuportáveis tragédias – a paralisia, a morte de um ente querido – são motivos de desespero, mas este tipo de infelicidade não durar tanto quanto as pessoas imaginam. E somos, notavelmente, resistentes.



9. Nós vemos o mundo como ele é.
Nós não somos receptores passivos de informação externa, que simplesmente entra em nosso cérebro através de nossos órgãos sensoriais. Em vez disso, procuramos ativamente por padrões (como um cão dálmata que, de repente, encontramos em meio a um campo de pontos pretos e brancos), por sua vez situações ambíguas causam engano, quando nos fixamos em nossas expectativas (isso é um vaso, isso é um rosto, isto é um rosto em um vaso) e perdemos completamente os detalhes daquilo que não estamos esperando.
Em um famoso experimento de psicologia, foi solicitado a um extenso grupo de expectadores de uma partida de basquete, para contar quantas vezes a bola era passada de uma jogador a outro. Metade do grupo, no entanto, não notou que havia um cara vestido de gorila no meio da partida.
Nós temos uma capacidade limitada de prestar atenção (falar ao celular enquanto dirigimos pode ser tão perigoso quanto dirigir bêbado), e abundância de preconceitos – ‘ou pré-suposições’ (nota minha) -sobre o que esperamos ou queremos ver. Nossa percepção do mundo não é apenas "bottom-up" (de baixo para cima), construída de observações objetivas e organizadas em camadas, de forma lógica. É "top-down" (de cima para baixo), impulsionada por expectativas e interpretações – ‘e fazendo com que as coisas se encaixem’ (nota minha).



10. Homens são de Marte, mulheres são de Vênus.
Este é um dos mitos mais vulgares e preconceituosos, e amplamente repercutido, e profundamente mal interpretado, na história da ciência que se propõe a fornecer explicações biológicas para as diferenças entre homens e mulheres. Neurocientistas eminentes, em certa altura, afirmaram que as estruturas do tronco, tamanho da cabeça ou cérebro, e gânglios espinhais, eram responsáveis ​​pela incapacidade das mulheres para pensar criativamente, logicamente, ou até praticar a medicina. Hoje as teorias de comportamento são muito mais sofisticadas: os homens supostamente têm hemisférios cerebrais mais especializadas, enquanto as mulheres apresentam circuitos de emoção mais elaborados. Embora existam algumas diferenças (pequenas e não correlacionadas com qualquer capacidade em particular) entre os cérebros masculino e feminino, o principal problema com a sua correlação com o comportamento, é que as diferenças sexuais na cognição são maciçamente exageradas.
Esperamos que as mulheres superarem os homens em testes de empatia, por exemplo. Mas o resultado aponta para o fato de os homens são particularmente bons em testes de empatia, ou obtêm resultados tão bons ou melhores do que as mulheres. O mesmo padrão esperado, é revertido, para os testes de raciocínio espacial, onde as mulheres se saem melhores do que os homens. Sempre que os estereótipos são trazidos à tona e aplicados à mente, até mesmo em questões simples, as diferenças sexuais são exageradas. Mulheres, estudantes universitárias, dizem que as mulheres vão mal nos testes. então faça mal feito. Mulheres, estudantes universitárias, disseram que as mulheres vão bem nos testes, então faça bem feito. Entre vários países, e ao longo do tempo, se arraigou a crença de que os homens são melhores do que as mulheres em matemática, mas existem entre os países, enormes diferenças entre os scores para homens e mulheres em matemática. Isso não significa que as meninas na Islândia tem os hemisférios cerebrais mais especializados do que as meninas na Itália.

Sandro Botticelli.... Vênus e Marte...


Diferenças sexuais são determinantes e muito importantes para nós, quando estamos à procura de um companheiro, mas quando se trata daquilo que o cérebro faz a maior parte do tempo - perceber o mundo, a atenção direta, aprender novas habilidades, codificar recordações, comunicar-se (não, as mulheres não falam mais do que os homens), estabelecer juízo sobre outras pessoas, interpretar emoções (não, os homens não são inaptos para a emoção) - homens e mulheres têm sobrepostas quase todas as suas habilidades.


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