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segunda-feira, 9 de abril de 2012

Pálido Ponto Azul





Considere de novo aquele pálido ponto azul que temos falado. Imagine que você está olhando fixamente para o ponto por um longo tempo, e então, tentem se convencer de que Deus criou todo o Universo, para UMA das 10 milhões de espécies de vida, que habitam esse grão de poeira. 

Agora deem um passo adiante: Imaginem que tudo foi feito apenas para uma única nuança desta espécie, ou gênero, ou subdivisão étnica ou religiosa. Se isso não lhes parecer improvável, tomem outro dos pontos. Imaginem que ele é habitado por uma forma diferente de vida inteligente. Que também nutre a noção de um Deus que criou todas as coisas para seu bem. Até que ponto vocês levariam a sério essa pretensão? 

E as luzes do céu se levantam e se põem ao nosso redor, não é evidente que estamos no centro do Universo? Aristóteles, Platão, São Agostinho, São Tomás de Aquino, e quase todos os filósofos e cientistas de todas as culturas durante 3 mil anos até o século XVII acreditaram nesta ilusão. 

As imensas distâncias até as estrelas e as galáxias significam que todos os corpos que vemos estão no passado. Alguns deles tal como eram antes que a Terra viesse a existir. Os telescópios são maquinas do tempo. Há muitas eras, quando uma galáxia primitiva começou a derramar luz na escuridão circundante, nenhuma testemunha poderia ter adivinhado que bilhões de anos mais tarde alguns blocos remotos de rocha e metal, gelo e moléculas orgânicas se juntariam para formar um lugar chamado Terra. Nem que surgiria a vida, nem que seres pensantes evoluiriam e um dia captariam um ponto dessa luz galáctica, tentando decifrar o que a enviara em sua trajetória. 

E depois que a Terra morrer, daqui a uns 5 bilhões de anos, depois que ela for calcinada ou até tragada pelo Sol, surgirão outros mundos, estrelas e galáxias também, e eles nada saberão de um lugar outrora chamado Terra. 

No entanto, não importa quantos reis, papas, filósofos, cientistas e poetas tenham insistido em afirmar o contrário, a Terra por todos esses milênios persistiu em girar em torno do Sol. 

Pode-se imaginar um observador extraterrestre severo olhando a nossa espécie com desprezo durante todo o tempo, enquanto tagarelávamos animadamente: “O Universo criado para nós! Somos o centro! Tudo nos rende homenagem!” E concluído que nossas pretensões são divertidas, nossas aspirações são patéticas, e que este deve ser o planeta dos idiotas.

Carl Sagan

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